quinta-feira, 22 de novembro de 2007

POESIA





Cruz e Sousa: Semana da consciência negra




Na semana da consciência negra, achei muito interessante postar sobre um poeta negro, que enfrentou muito preconceito em sua época, lutando fortemente contra ele até obter o cargo de difusor do movimento simbolista no Brasil.
Nascido em uma era onde ser negro era ser excluído e rejeitado da sociedade, Cruz e Sousa é o exemplo perfeito de que cor, não tem nada a ver com competência, brilhantismo e personalidade.
Filho de escravos alforriados, ele teve a sorte de ser apadrinhado pelo seu ex-senhor que lhe ofereceu educação refinada em colégio de crianças brancas. Aos 19 anos, já falava inglês, francês e latim, sendo convidado assim para dirigir um jornal e lutar pelo combate ao preconceito racial e a escravidão. Sua opção pela poesia nasce quando ele foi recusado a um cargo de promotor público por ser negro e lança logo em seguida seu primeiro livro Tropos e Fantasias em parceria com Virgílio Várzea.
Em suas obras, percebemos a presença constante de individualismo, sensualismo, desespero e uma obsessão constante pela cor branca, enquanto seus versos são marcados por aliterações, o que acaba causa um efeito de musicalidade.
Morre muito jovem aos 47 anos vítima de tuberculose, doença que também matou seus quatro filhos anos antes.
Sua contribuição ao país, foi muito além de difundir o simbolismo. Ele foi um grande exemplo de coragem, idealismo e luta, se tornando assim (pelo menos ao meu ver) como um dos poetas brasileiros mais importantes, não pela poesia, mas pelo exemplo de vida.
INEFÁVEL

Nada há que me domine e que me vença
Quando a minha alma mudamente acorda...
Ela rebenta em flor, ela transborda
Nos alvoroços da emoção imensa.
Sou como um Réu de celestial sentença,
Condenado do Amor, que se recorda
Do Amor e sempre no Silêncio borda
De estrelas todo o céu em que erra e pensa.
Claros, meus olhos tornam-se mais claros
E tudo vejo dos encantos raros
E de outras mais serenas madrugadas!
Todas as vozes que procuro e chamo
Ouço-as dentro de mim porque eu as amo
Na minha alma volteando arrebatadas
SIDERAÇÕES

Para as Estrelas de cristais gelados
As ânsias e os desejos vão subindo,
Galgando azuis e siderais noivados
De nuvens brancas a amplidão vestindo...
Num cortejo de cânticos alados
Os arcanjos, as cítaras ferindo,
Passam, das vestes nos troféus prateados,
As asas de ouro finamente abrindo... D
os etéreos turíbulos de neve
Claro incenso aromal, límpido e leve,
Ondas nevoentas de Visões levanta...
E as ânsias e os desejos infinitos
Vão com os arcanjos formulando ritos
Da Eternidade que nos Astros canta...

Um comentário:

Pricila Graziano disse...

Parabéns!
Texto muito bom, demonstrando seu interesse e conhecimento pelo assunto.